Passando a limpo o mundo das imagens

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Viral, a metáfora

Antigamente, rolava uma "força", depois, passou a rolar uma "energia". O homem moderno põe muita fé na ciência e é daí que ele tira boa parte de suas metáforas. De uns anos pra cá, tenho a impressão de que o corpo, os sentidos e suas ciências viraram a principal inspiração. Não rola mais uma energia, "rola uma química", que "é um lance de pele", sabe? 

Quando uma empresa quer dizer que uma qualidade é muito verdadeira, profundamente enraizada, afirma: "tá no DNA da organização". DNA é supostamente aquilo que define características inatas, naturais, que não se forja nem se finge, que é o que é. Mas essa metáfora está com os dias contados. Cada vez mais, o que está no DNA é planejado e construído.

Mas o corpo está tão na moda que até causa de doença passa a designar coisas boas. Nada mais badalado hoje do que um "viral", algo que contagia, que se espalha, que se multiplica espontaneamente. Se as empresas fossem tão criativas há 100 anos, fariam "marketing bacteriano", há 200, "marketing verminal". O vírus não é uma descoberta nova, mas se popularizou na era Aids. Muitos podem se perguntar como algo tão assustador pode ter se transformado em moda. Acho que dá pra explicar. Primeiro a Aids se tornaou mais invisível. Segundo, esse é um aspecto de uma civilização hedonista como a nossa, regida pelo princípio do prazer, que sabe arrancar o lado "cool" das piores coisas. Hoje tudo é tão relativo que até o vírus tem algo de exemplar, algo a ensinar. 

Nada como saber dar a volta por cima!