Olha a cândida, freguesia

Passando a limpo o mundo das imagens

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Viral, a metáfora

Antigamente, rolava uma "força", depois, passou a rolar uma "energia". O homem moderno põe muita fé na ciência e é daí que ele tira boa parte de suas metáforas. De uns anos pra cá, tenho a impressão de que o corpo, os sentidos e suas ciências viraram a principal inspiração. Não rola mais uma energia, "rola uma química", que "é um lance de pele", sabe? 

Quando uma empresa quer dizer que uma qualidade é muito verdadeira, profundamente enraizada, afirma: "tá no DNA da organização". DNA é supostamente aquilo que define características inatas, naturais, que não se forja nem se finge, que é o que é. Mas essa metáfora está com os dias contados. Cada vez mais, o que está no DNA é planejado e construído.

Mas o corpo está tão na moda que até causa de doença passa a designar coisas boas. Nada mais badalado hoje do que um "viral", algo que contagia, que se espalha, que se multiplica espontaneamente. Se as empresas fossem tão criativas há 100 anos, fariam "marketing bacteriano", há 200, "marketing verminal". O vírus não é uma descoberta nova, mas se popularizou na era Aids. Muitos podem se perguntar como algo tão assustador pode ter se transformado em moda. Acho que dá pra explicar. Primeiro a Aids se tornaou mais invisível. Segundo, esse é um aspecto de uma civilização hedonista como a nossa, regida pelo princípio do prazer, que sabe arrancar o lado "cool" das piores coisas. Hoje tudo é tão relativo que até o vírus tem algo de exemplar, algo a ensinar. 

Nada como saber dar a volta por cima!

domingo, 28 de setembro de 2008

Blog em busca de uma identidade

Eu que sou novato, decidi pesquisar um pouco os estilos dos blogs mais recorrentes da rede. Encontrei três tipos muito marcantes de blogueiros: os críticos (que querem mudar o mundo), os intimistas (que querem mudar a si mesmos), e os antenados (que adoram todo tipo de mudança). Percebi também que são identificados por abusarem, respectivamente, das reticências, das interrogações e das exclamações.

Vamos imaginar um fato simples deste domingo: "amanheceu quente, depois ficou frio". Inspirado nisso, vejam como seria meu post em cada um desses estilos:

Tão cinza...

Hoje eu acordei cedo, olhei pela janela e prometi tantas coisas pra mim mesmo nesse domingo... Mas enquanto eu fazia planos, tudo ficou cinza... O tempo... Já não basta ter que enfrentar o tempo do relógio que passa tão depressa, agora tem também esse outro tempo, tão frio, tão úmido... Agora estou ouvindo "My heart so cloudy", acho que tem tudo a ver....





Será que ainda teremos as estações do ano no futuro?

Alguém ainda acredita em inverno e verão? Li esses dias que a média mundial de dias quentes no inverno e dias frios no verão aumentou em 20% nos últimos 10 anos. Tem a ver com o degelo da calota polar e a destruição das florestas tropicais. Gente, onde isso vai parar, vamos fazer a nossa parte?


Mãos congeladas, nunca mais!


Você que não tem aquecedor e ar-condicionado, quantas vezes já não derreteu ou congelou na frente do computador?! Depois do micro-ventilador usb, a Invisible Giants lançou estas luvas USB, com uma resistência que mantem suas mãos aquecidas enquanto você digita. E tem mais, um software permite consultar o clima de sua região e ajustar automaticamente a temperatura das luvas!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Diesel - Pornô reciclado

Reciclagem é uma idéia em voga nesta virada de milênio, e não apenas no sentido ecológico, mas cultural. São fenômenos típicos da chamada pós-modernidade a citação, a releitura, a descontextualização, e a mistura de estilos. Na comunicação, isso abre espaço para coisas que, num primeiro momento, pareceriam totalmente non-sense, mas que caem nas graças do público exatamente pelo seu caráter inusitado. Às vezes, a radicalidade do deslocamento e do improviso soa mais criativa do que a originalidade de uma produção impecável. 

Essas características estão presentes no vídeo-convite que a Diesel lançou para uma de suas baladas que ocorrerá em vários locais do mundo. É reciclagem pura! Com o acréscimo de pequenas animações, vejam como tudo muda: um lixo pornográfico, demodé e de 5a categoria, virá um vídeo-clip descolado.

Pra mais detalhes da festa, vejam o site da Diesel.



Para dar os devidos méritos, vi este vídeo pela primeira vez no Kanye's Blog, que está indicado aqui ao lado.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Fractais e neurônos são lindos, mas são arte?

O Instituto Cervantes, em São Paulo, abriu hoje uma mostra chamada "Paisagens Neuronais", obtidas a partir de pesquisas das neurociências. Essas imagens são certamente úteis mas, para nós, são apenas belas. As notícias sobre a exposição estão por aí, não é preciso comentar... Mas lembrei de exposições que vi nos anos 90, da então chamada "arte-fractal".

Acho que todo mundo sabe o que é fractal, não? Pelo menos, todo mundo já viu alguns por aí, e sabe que são imagens impressionantes. Em princípio, elas não foram feitas pra serem bonitas ou feias, elas são representações constituídas a partir de uma nova concepção de geometria. Aprendemos na escola a geometria euclidiana, aquela que nos ensinava que o ponto não tem dimensão, a reta tem dimensão 1, o plano, 2, e o sólido, 3. Já a geometria fractal concebe objetos com dimensão fracionada (daí o nome fractal), algo como 2,38. Como assim?! Mais do que isso, vou ficar devendo. Minha mente foi definitivamente formatada por Euclides. Mas os fractais parecem representar melhor a nossa natureza, que é um tanto mais complexa, um tanto mais caótica do que aquele empilhamento de cubos, piramides, cones, toróides das aulas de geometria da escola. Estão ligadas à revolução das novas (já nem tanto) ciências do caos. 

(Amanhã postarei o link para download de um software muito legal para geração de fractais.)

Enfim, fractais também são representações científicas, mas que chegaram até nós, pessoas comuns, como objetos de contemplação estética, da mesma forma que os diagramas de chip de computador, os registros feitos por sondas espaciais, as fotografias microscópicas e, agora, as paisagens neuronais.

Essas imagens são certamente belas, mas isso é suficiente para dizer que são arte? Também não daria conta de oferecer aqui uma resposta muito segura. Afinal, a arte também está mais complexa do que nunca, a tal ponto que ela própria já não tem grandes compromissos com o belo.

Por enquanto, podemos tentar apontar uma direção com um jogo de palavras: fotografia não é arte, vídeo não é arte, computação gráfica não é arte, nem mesmo pintura, por si só, é arte. São apenas técnicas. Mas, é claro, fazemos arte com fotografia, vídeo, computação gráfica, pintura e tudo mais. Talvez a mesma coisa valha para as técnicas de imagens do cosmo, do corpo, dos micro-organismos, e para os fractais: não são arte, mas possamos utilizá-las para esse fim.

Penso que a arte se construa numa boa adequação entre forma e conteúdo. Essas imagens podem se tornar obras estéticas na medida em que os artistas as utilizem para dar materialidade às novas formas de pensar o mundo. De fato, nos anos 90, os artistas foram mais eficientes que os cientistas em utilizar os fractais para representar a nova complexidade que se reconhecia no mundo, com a economia global, os multiculturalismos e a internet. Assim como a fotografia e o cinema, além de produzirem belas tomadas, representaram bem as conquistas de um mundo moderno marcado pela racionalidade, pela velocidade e pela eficiência.

Então, nós que estamos por estas bandas, vamos ver as tais paisagens neuronais. Quem sabe, além de belas, elas permitam dar forma a uma nova compreensão da inteligência. E também das novas redes onde, agora, essa inteligência às vezes se perde, às vezes se expande.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Violência e Mídia: o caso do assassino finlandês

Ontem, Matti Juhani, um jovem finlandês de 22 anos entrou armado numa escola e matou dez pessoas, antes de cometer suicídio. Os EUA colecionam casos semelhantes, um dos quais foi retratado em dois bons filmes, Tiros em Columbine (do aloprado Michael Moore) e Elefante (do cirúrgico Gus van Sant). Consta que o Finlandês gostava de ver vídeos sobre o incidente de Columbine. E, em todos esses casos, parece haver um padrão, são pessoas problemáticas, que se isolam vendo filmes violentos, jogando games violentos, e criando relações enigmáticas através da internet, onde dão pistas da tragédia que planejam. Portanto, está explicado: a culpa é do cinema, da televisão, dos games e da internet.

Toda vez que ocorre algo dessa ordem, discutem-se as possíveis conseqüências do excesso de violência nos meios de comunicação. Alguns desses comentários não escondem o desejo de que houvesse censura.

Idiotice.

Se a mídia tem alguma culpa nisso, eu diria que é mais por omissão: não imagino que inibir o acesso aos programas violentos seja uma solução para a violência. Mas tenho certeza de que a falta de uma programação comprometida com a educação e socialmente responsável seja algo diretamente ligado à violência, e também à corrupção, à miséria material, ao baixo nível de desenvolvimento cultural e social de um país. Enfim, melhor do que tirar os filmes e games violentos de circulação, seria garantir o acesso das crianças a uma programação de melhor qualidade.

Há outras coisas a se considerar, antes de culpar os meios de comunicação. O que Estados Unidos e Finlândia têm em comum? São os dois países mais armados do mundo ocidental (conforme reportagem do UOL). O que é mais significativo: um jovem jogar Doom ou ter acesso a uma arma de fogo? Doom me parece um jogo imbecil, mas certamente não é o maior problema aqui.

O Brasil teve também seu momento de destaque quando, em 1999, um rapaz entrou numa sessão do filme Clube da Luta, no cinema de um shopping de São Paulo, matou três pessoas e feriu outras quatro. É claro que o filme foi imediatamente responsabilizado. Tivemos nossa chance de coibir a venda de armas, mas deixamos passar. Preferimos continuar pensando em mecanismos de censura.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A tela interativa do Fantástico

Todos estamos aqui porque gostamos de tecnologia. Mas temos que admitir que, às vezes, certas traquitanas não se adaptam bem ao ambiente, sobram, não combinam. Vocês já viram a tela interativa do Fantástico? Me parece um caso desses...

O Fantástico tem um formato tradicional, com Zeca Camargo e Patrícia Poeta em pé, algumas vezes já um tanto sem jeito, com a obrigação de balançar o corpo e gesticular conforme a fala. E tem a tela, anunciada como novidade, que tem que servir pra alguma coisa.

Quando apresentam uma reportagem, chamam, ampliam e deslocam imagens com a ponta dos dedos, fazem círculos e setas destacando coisas que às vezes não são lá muito visíveis. Os editores não podem simplesmente carregar a imagem na tela inteira, porque têm a obrigação de mostrar a performance desengonçada dos apresentadores, afinal, não é apenas uma animação, é um touchscreen com infográficos interativos.

Eu tenho uma boa TV de LCD mas, mesmo assim, uma TV dentro da TV é algo que não garante lá muita qualidade. A imagem fica longe, e eles ainda tem que fazer um esforço para não ficar na frente da tela.

Mas o que mais me incomoda é que não serve pra nada, não acrescenta nada. É diferente de uma aula, em que recursos gráficos podem ajudar a construir uma idéia. Pra que serve mostrar a foto de um fulano, a foto de uma fulana, circular o rosto de um e de outro, fazer uma setinha de um até outro pra dizer que eles tinham um relacionamento? É patético!

Tudo bem que a tecnologia seja um objeto de fetiche. Um iPod é legal mesmo quando desligado, um Porsche na garagem continua sendo um Porsche. Mas quando a coisa atrapalha, é hora de repensar um pouco se a tecnologia é, em si, um valor.

domingo, 21 de setembro de 2008

Até que a morte vos separe

Neste final de semana, fui ao casamento de um amigo. Super-produção... Foram duas entradas da noiva no altar, uma para a foto, outra para o vídeo. Na festa, o casal passava de mesa em mesa e uma mestre-de-cerimônia dirigia os gestos, pedia para repetir beijos e abraços, mandava os noivos conversarem espontaneamente com os convidados... O papo engrena de verdade mas, feitas as tomadas e as fotos, a fulana mandava o casal para a mesa seguinte sem a menor cerimônia. Depois de uma hora e meia nesse mico, o noivo estressou (aos berros): "P...q...p...! São meus amigos, é a minha festa, some daqui!" O salão parou, ele sumiu por um tempo, a noiva ficou aos prantos, e muitos convidados começaram a ir embora. Mas podem ter certeza, no vídeo e no álbum vai estar tudo lindo.